NOGO | PROJECT-ROOM AND THINK-TANK FOR CONTEMPORARY ART AND ARCHITECTURE

27/03/2010




Encontro
Mariana Castro

8'42'', 16:9, som stereo 2.0


com: Denise Cunha Silva e Luís Rosa
voz: Luís Marques da Cruz
música: "Messe de Requiem, op.48", Gabriel Fauré
argumento: Sílvio Santana
realização: Mariana Castro

Da cristalização do instante - mas não apenas de um instante, antes de uma sucessão de instantes - vive o cinema, arte da memória e do fluxo temporal.
Da acumulação de memórias vive este Encontro, filme de cinema que não parece querer ser, mas que não pode deixar de o ser. Filme de memórias e da passagem do tempo, filme da memória imaginada (e não são todas as memórias imaginação?), filme da memória registada em polaroids misteriosas - formato hoje arcaico, ele próprio remetido para o arquivo, para as coisas que um dia as pessoas acharão curioso que tenham existido. Tal como a película, cujas manchas e riscos são aqui tão importantes como as pessoas e lugares, como o preto e o branco em que nos aparcem, como os sons esparsos que evocam o mistério que as imagens não revelam.
O encontro que aqui se produz não é apenas o desta mulher sonhada com este homem sonhador. É o encontro de formas de registo a seu tempo devidamente condenadas: a escrita, condenada por Sócrates por considerar que acabaria com a capacidade de memorizar dos homens - e porventura também por Cristo, que como sabemos, apenas escreveu na areia -, e a imagem, condenada na célebre proibição bíblica. E deste encontro entre a imagem e a escrita, parece resgatar-se precisamente a memória e as possibilidades criativas da memória. Deste encontro, e da possibilidade de libertação que a arte oferece ao seu narrador, da musa que lhe aparece finalmente, resgata-se uma ideia de cinema que tem ilustres antecessores (La Jetée de Chris Marker é o primeiro que nos vem, não à, mas da, memória), uma ideia de cinema que arrisca a suspensão do fluxo, para de forma mais poderosa o reencontrar, o reafirmar, na potência do seu movimento imparável. Imparável porque na realidade somos nós que o pomos em marcha, ao percorrer mentalmente o espaço que vai de um fragmento a outro, como este escritor que pela cidade deambula, preenchendo o que vai de uma polaroid a outra, de uma ilha a outra, de uma solidão que permanece, mesmo para lá dos encontros, na viagem de regresso a um lar que é já outro. (Texto de Luís Fonseca, 2010).

Short Bio da Artista:
Mariana Castro (1986). Natural de Santarém, reside e trabalha em Lisboa. Seleccionada para frequentar um breve curso de Realização na Faculty of Dramatic Arts (FDU, Beograd) – European Summer Film School, Belgrado, Sérvia, no verão de 2008, tendo como mentor o realizador Milcho Manchevski. Conclui o curso de Cinema, ramo de Realização, na Escola Superior de Teatro e Cinema em 2009. Frequenta actualmente o Mestrado em Filosofia, área de especialização Estética, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Assume-se como fotógrafa auto-didacta desde 2003, vindo o seu trabalho fotográfico a ser publicado em varias edições da publicação portuguesa “Revista 365” e nas revistas estrangeiras “After17magazine - Japan ” e “TheNewNude Magazine - UK”. Como realizadora fez várias curtas-metragens de ficção no âmbito académico, seleccionadas para diversos festivais, tendo o seu primeiro documentário "Imemória" (2009) ganho prémios nos festivais onde, até então, esteve presente. Encontra-se actualmente a desenvolver projectos na área do cinema documental e em fotografia.



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